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O Ouro do Jaraguá e Perus

Pico do Jaraguá

Se você morasse em São Paulo há uns 300 anos, poderia perfeitamente ficar rico sem se afastar muito de casa. Bastaria cavar as terras ao redor do Pico do Jaraguá e contar com um pouco de sorte para encontrar ouro.

Essa corrida ocorreu muito antes que se falasse nas jazidas de Vila Rica e dela restaram apenas vestígios de terra revolvida, que agora voltaram a chamar a atenção. É que as quatro cavas de ouro localizadas na região oeste da Capital e apontadas como uma das primeiras atividades de mineração de ouro no Brasil deverão se transformar em um parque linear equipado com um museu da mineração aberto à visitação pública.

Localizadas entre o Pico do Jaraguá, o ponto mais elevado da capital paulista, e o bairro Perus, acompanhando a Rodovia Anhanguera, essas cavas (valas) estendem-se por uma faixa de seis quilômetros de extensão e cerca de oitocentos metros de largura. Elas estão em processo de tombamento no Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp).

“Um grupo de trabalho está desenvolvendo o plano de criação de um parque linear para a região. As cavas estão inseridas neste parque”, informa a arqueóloga Paula Nishida Barbosa, do Centro de Arqueologia do Município de São Paulo.

Segundo ela, ainda é necessário fazer um rigoroso levantamento arqueológico na região. “Precisamos verificar se há vestígios antigos dos rejeitos dessas explorações, ferramentas utilizadas para exploração e até mesmo trilhas antigas ou mais cavas”, explica Paula. “Isso sem falar da retirada do entulho que está dentro dessas cavas, para que os arqueólogos possam fazer as suas pesquisas e verificar a existência de artefatos arqueológicos”.

Segundo o geólogo Francisco Adrião, representante da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente e coordenador do grupo, a proposta de proteção e uso efetivo da área pela população deverá estar concluída em dois meses.

Preservação – No dia 15 de março, o Conpresp abriu processo de tombamento das cavas denominadas Faldas do Morro do Quebra-pé, Jardim Britânia, Morro Doce e Parque Nova Anhanguera, atualmente parcial ou completamente encobertas por entulhos e lixo urbano. A intenção do órgão é “preservar essa área de valor histórico e arqueológico em razão de ser remanescente da atividade mineral da região, iniciada no período colonial“.

A abertura do processo de tombamento tomou como base um estudo detalhado sobre a região, realizado a pedido do Ministério Público Federal pelo geólogo Celso Dal Ré Carneiro, professor do Departamento de Geociências Aplicadas ao Ensino do Instituto de Geociências, da Universidade de Campinas (Unicamp).

Antigas cavas de ouro do século 16 foram localizadas próximas ao Pico do Jaraguá, na zona oeste da Capital. – Luiz Prado/Luz – 06/02/2006
Escavações – Conforme descreve Luiz Fernando dos Santos, geólogo da subprefeitura de Perus, as cavas estão a cerca de trezentos metros de distância umas das outras e localizadas em uma área total de 100 mil metros quadrados.

Elas estão no Planalto Atlântico, na altura do Trópico de Capricórnio, e constituem-se de uma série de sinuosas escavações descontínuas, das quais a principal é a mais próxima da Rodovia Anhanguera, que também é o acesso mais fácil para se chegar à região, a partir de São Paulo.

No km 16,5 da rodovia, o motorista deve acessar o trevo do Jaraguá e, à esquerda, entre os quilômetros 23 e 24, ao final de longa descida, próximo à placa rodoviária que assinala a posição do Trópico de Capricórnio, é possível observar a escavação do Morro Doce.

Lavras – “O auge da lavra dessas cavas aconteceu em meados dos anos 1800. Hoje são áreas esgotadas e não há qualquer documento garantindo o direito de lavra por lá”, afirma Santos, que, junto com o geólogo José Reynaldo Bastos da Silva, assina o trabalho “Cavas de Ouro Históricas do Jaraguá – O Que Resta Para se Preservar?”, publicado em 2000.

De acordo com o representante da subprefeitura de Perus, todas são escavações a céu aberto em taludes de 15 metros de altura sobre rocha decomposta pelo tempo, atualmente cortadas por avenidas, ruas, com a presença de residências, escolas públicas e cobertas por entulhos e pelo matagal.

“A grande quantidade de ouro que havia nessa região, muito semelhante às ocorrências de ouro no Peru, pode ter dado origem ao nome do bairro de Perus”, observa Santos. Ele conta que as cavas Faldas do Morro do Quebra-Pé, de 35.400 metros quadrados; Morro Doce, de 29.020 metros quadrados; e Parque Nova Anhanguera, de 35.750 metros quadrados, estão cobertas por mata nativa recomposta.

Já a cava Jardim Britânia, de 17.170 metros quadrados, encontra-se em uma região muito degradada, na beira da Rodovia Anhanguera, no km 23, bem no local onde passa a linha do Trópico de Capricórnio.

Degradação – “Obras de terraplenagem desfiguraram um quinto do local, que havia sido. A Cava do Jardim Britânia está parcialmente descaracterizada. As demais cavas encontram-se bem preservadas e são passíveis de acolher a futura implantação de parques públicos”, avalia o professor Celso Carneiro.

O docente da Unicamp explica, no entanto, que a cava principal está hoje coberta de mato, solo desabado, lixo e restos de demolições. Em seu interior, prossegue, havia, em 1982, uma galeria suavemente inclinada, com cerca de dez metros de extensão. “Essas construções foram posteriormente soterradas”.

A transformação da paisagem foi rápida. Em quatro décadas, observa Carneiro, o crescimento da metrópole substituiu gradativamente sítios e chácaras da zona rural na região do Jaraguá. Cada uma das cavas possui paredes muito inclinadas, desprovidas de vegetação e cobertas de material escorregado das encostas.

Na opinião de Paula Barbosa, a importância das cavas está na sua própria existência, sua jornada (as cavas foram exploradas até o século 19) e seu potencial como agente histórico. Em uma cidade como São Paulo, diz a arqueóloga, é difícil manter testemunhos muito antigos, principalmente pelo crescimento urbano desenfreado.

“As próprias cavas estão em situação crítica e é preciso que esse processo seja interrompido. A preservação desses locais é um belo exemplo de como o moderno pode conviver com o passado. E o passado quando inserido no presente deixa de ser uma ‘coisa antiga’ para se tornar história e modificador do presente”, argumenta Paula.

Turismo – Através da história, afirma Paula, “podemos aumentar o emprego da região através do potencial turístico, os moradores do entorno terão uma área preservada e não degradada, as crianças, os estudantes e a população em geral poderão aprender sobre preservação, história, geologia, botânica e até economia”.

Segundo ela, o valor dessas cavas não pode ser medido apenas pelo valor arquitetônico, mas sim pelo valor histórico; “Afinal, quem diria que São Paulo ainda tem marcos históricos que podem nos levar ao século 16?”, pergunta Paula Barbosa.

[Fonte] [Foto]

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